Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caía o crepúsculo, e era um triste sorriso de mártir.

Santa Maria Egipcíaca chegou
A beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
– Leva-me ao outro lado.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir.

– Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

Leva-me o outro lado.
O homem duro escarnece: – Não tem dinheiro,
Mulher, mas tens teu corpo. Dá-me o teu corpo, e vou
                                                                          [levar-te.

 E fez um gesto. E a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.

 Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.
 

 
Estrela da Vida – Manuel Bandeira.
Livraria José Olympio Editora
Seleção de Adalberto Monteiro
Digitação Camila Ferreira