Onde andarão as estrelas
que antes, alugavam os teus olhos
para breves temporadas
nas manhãs de dezembro?
 
Onde andará teu riso solto?
 
Foram-se, as estrelas
talhadas em luz
esculpidas em bronze
em barcos reais que aqui passaram
à heráldica sombra de velas enfunadas
 
Foram-se, os olhos
ainda antes que as estrelas
em manhãs de dezembro
sem brilho ou dor
 
Os teus olhos, onde andarão?
onde, porventura, esquecidos
quedaram
onde levaram a noite que guardavam
os segredos
minhas lágrimas
as pérolas e os versos
os animais da África
o sol de papelão?
 
Foram-se, as estrelas dos teus olhos
as luzes todas da cidade
os últimos círios
a lanterna dos afogados
o farol, o riso, o mar e os angicos
os paus d’arcos
os silêncios
 
apenas eu,
à beira rio,
sem velas nem reis
nem anjos nem espadas flamejantes
 
apenas eu
à beira vida