Silenciosas batalhas do ocaso
em arrabaldes últimos,
sempre antigas derrotas de uma guerra no céu,
albas ruinosas que nos chegam
do fundo deserto do espaço
como no fundo do tempo,
negros jardins da chuva, uma esfinge de um livro
que eu tinha medo de abrir
e cuja imagem volta dos sonhos,
a corrupção e o eco que seremos,
a lua sobre o mármore,
árvores que se elevam e perduram
como divindades tranqüilas,
a mútua noite e a esperada tarde,
Walt Whitman, cujo nome é o universo,
a espada valorosa de um rei
no silencioso leito de um rio,
os saxões, os árabes e os godos
que, sem o saber, me engendraram,
sou eu essas coisas e as outras
ou são chaves secretas e árduas álgebras
do que não saberemos nunca?

 

Jorge Luis Borges – Obras Completas I
Editora Globo – edição 1998 – vários tradutores