Ela corre dentro de um labirinto, e não sua. Porque as meninas perfeitinhas não têm defeitos e fazem o mundo parecer ainda menos certo. Passa por enormes muralhas de mármore, pelas quais não sobem as heras, nem passeiam as lagartixas.

      Não deixa pegadas, nem vestígios, pois não quer ser compreendida. Só espera que ninguém a magoe, nem antecipe seu destino. Pouco importa se não irá a lugar algum, anda em círculos há pelo menos dois segundos. Perdeu a noção do tempo, mas sabe que está atrasada. Sempre.

      É feliz porque tem todas as encruzilhadas do mundo para descobrir e um cidade inteira de novidades pela frente. Precisa tomar decisões a cada instante e sorri seus dentes de lua.

      Escolhe a saída errada e acha bom, vai tentar de novo e de novo, até dar vontade de dormir. Dobra à direita e continua, cruzando universos de areia e pedra. Nenhum cheiro ou ruído, mas todas as possibilidades de futuro.

      Não tropeça, nem esbarra. Não olha para trás, nem para o céu. Tem os pés no chão e o olho apontado para frente. No seu encalço, as sombras de seus medos e pessoas de estimação.

 Então pisa numa armadilha e escorre para dentro de uma toca. O percurso é turbulento e inebriante, até cair num tapete fofo de nuvens imaginadas. Passa, em vão, a mão na frente dos olhos e não enxerga nada. Está calma e determinada a tatear o vento e prosseguir. Sente o cheiro da marcela que costuma habitar o interior de seu travesseiro.

      De repente, um aconchego de braço forte a envolve, impedindo a correria e o descontentamento. Sente seu corpo apertado contra o dele e nem imagina quem seja ele. Mas não tem vontade de gritar, parece ter sido muda a vida inteira.

      E agora está metade flutuando, metade sendo sugada. Por fora, levita. Do outro lado, aconteceu de ter ficado vazia. Voar é negócio para poucos. Coloca os pés para fora do lençol e decide não sonhar mais esta noite.