Obra de maturidade de Johann Wolfgang Goethe, As Afinidades Eletivas, é uma delicada e profunda incursão por um dos temas mais complexos da vida social e amorosa: o adultério. A partir do princípio químico pelo qual dois elementos se atraem e se condensam formando um único, Goethe constrói nesse romance uma alegoria para demonstrar a determinação das forças da natureza sobre as relações no casamento e na sociedade. O título do livro leva para o campo das relações humanas o conceito científico criado por Albertus Magnus – De attractionibus Electivis – para designar a atração mútua exercida por determinados elementos químicos. Foi lançado no Brasil pela Editora Nova Alexandria com tradução minha e prefácio e notas de Kathrin H. Rosenfield.

      A história de As Afinidades Eletivas se desenrola no castelo onde moram o barão Eduard e sua mulher Charlotte, um pouco mais velha do que ele. Com a chegada de Ottilie, a sobrinha de Charlotte, e a vinda do Capitão, um amigo de infância de Eduard, a aparente felicidade do casal é perturbada e a rotina de ambos transforma-se de maneira radical. O despertar dos sentimentos mais profundos e a paixão súbita levam os personagens a situações extremas e trágicas. Desse modo, o romance acaba enfeixando vários subtemas: fidelidade, casamento e o significado dos papéis do homem e da mulher na sociedade de então. E talvez, pela primeira vez na história da literatura, a mulher aparece não como símbolo ou joguete nas mãos dos homens, mas já na condição de interlocutora dotada de vida inteligente.

      Com As Afinidades Eletivas, Goethe criou o primeiro romance psicológico em língua alemã. Segundo Eliane R. Moares, “os fios invisíveis que movem os seus personagens, revelando o tecido fantasmático que une o amor à morte, nos remetem diretamente aos domínios do inconsciente, onde reinam a indeterminação e a ambigüidade. Se a fórmula da “attractio” amorosa chega a surpreender pela simplicidade com que é introduzida no início do romance, talvez seja justamente por enfatizar a inevitável complexidade que marca seus desdobramentos futuros. Poucos laboratórios foram tão adequados para analisar essa química, complicada e difícil, como aqueles construídos em plena era romântica, na época de Stendhal e de Goethe.” (JB – 07/11/1992).

      O romance As Afinidades Eletivas foi escrito em 1808 e publicado no ano seguinte quando o autor completava 60 anos, tornando-se desde então um dos romances mais lidos da literatura universal. Uma obra clássica que aborda temas sempre atuais e que indubitavelmente ainda têm muito a dizer aos nossos contemporâneos.