(1883)

  
Parece-me que o vejo iluminado.
Erguendo delirante a grande fronte
– De um povo inteiro o fúlgido horizonte
Cheio de luz, de idéias constelado!
De seu crânio vulcão – a rubra lava
Foi que gerou essa sublime aurora
– Noventa e três – e a levantou sonora
Na fronte audaz da populaça brava!
Olhando para a história – um século e a lente
Que mostra-me o seu crânio resplandente
Do passado através o véu profundo…
Há muito que tombou, mas inquebrável
De sua voz o eco formidável
Estruge ainda na razão do mundo!

 

 

CUNHA, Euclides da. Ondas e outros poemas esparsos. In: Obras Completas, Afrânio Peixoto (org.). 2ª ed. Nova Aguilar: Rio de Janeiro, 1995, 2 v.