O algodão de Angola só será branco
quando Angola for independente

Agora é negro
com manchas vermelhas
na baixa de Cassange.

As barragens de Angola só serão fartura
quando Angola for independente

Agora são fome
gente corrida dos seus quimbos
e despojadas de quanto tinha

O açúcar de Angola só será mel
quando Angola for independente

Agora é amargo
chicote e prisão
tonga da morte

O café de Angola
o diamante
o ferro
o petróleo
o milho
a palma
o cimento
a manga
a carne
o mar
o funje
o ndoka
o céu e o vento
quitaba
o luar a noite
o dia
o homem
Angola

O homem de Angola
vem chegando independente
do horizonte
das florestas
e montanhas
da guerrilha.   

                                  
(Fevereiro de 1963)

 

Poesia com armas Fernando Costa Andrade
Coleção vozes do mundo
Livraria Sá da Costa Editora