As cidades são a alma de seu povo. Pedro II no Piauí é sinônimo de felicidade, ali tenho meu umbigo enterrado. Brasília é a capital da República e me acolheu como filha. Em São Paulo a capital do estado de São Paulo pude ver o que significa a riqueza de um país. Quando dancei ciranda nas ruas do Recife, me apaixonei pela cultura do estado de Pernambuco. Foi em São Luís do Maranhão que conheci a poesia de Ferreira Gullar e ainda hoje sonho com um palácio feito de seda e de ouro. Depois que entrei em Salvador na Bahia, os orixás me pegaram nos braços e até hoje escuto os sinos de uma cidade abençoada.

      As cidades guardam segredos de seu povo. Teresina, a capital do Piauí, foi a cidade que aqueceu meu coração e me abriu as portas para o mundo. Cabo Frio, é uma bela cidade da região dos lagos no Rio de Janeiro e, foi ali que abracei a causa do socialismo. Pedro II é a primeira maravilha do Piauí, hospitalidade e generosidade de um povo que tem a cintilação de suas opalas. A primeira vez que visitei Santos em São Paulo, fui direto ao Penteão dos Andradas – era o mínimo que podia fazer para reverenciar a memória de José Bonifácio – gesto carinhoso de uma universitária apaixonada pelo seu país. Quando criança eu andava de bicicleta pelas ruas de Pedro II, e o vento que batia no meu rosto, trazia mensagens de esperança. Em Corrente, no sul do Piauí, o meu coração foi cravado por águas-marinhas, pedras que ainda brilham em noites escura. Acompanhei Mamãe e Mundica numa viagem para Goiânia em Goiás e ali assisti a celebração da amizade.Teresina, tem gosto de sorvete de bacuri. Sai do Rio de Janeiro com a certeza de que conhecia o Brasil.

      As cidades tem o poder de abrir o coração de seus filhos. Ao cair da noite, atravessei o rio Tocantins numa balsa, dormi em Miracema do Norte, completamente extasiada pela emoção daquela aventura. Caminhando pelas ruas de Campinas vi em cada rosto, traços da beleza paulista . Sempre que chego em Luís Correa, litoral do Piauí, posso correr pelas praias e sentir o vento salgado da plenitude. Parnaíba é doce como as águas do rio que lhe batiza –  banho da terra, sementes de amor, brotos de vida, um contínuo exercício com o olhar do aprendizado.

      As cidades embalam os sonhos dos seus filhos. Cada passo que dava em Oeiras, era como se caminhasse por um pergaminho que me mostrava a história do Piauí. "É preciso amar as pessoas com se não houvesse amanhã" – em Brasília, chorei a morte de um poeta. Um mês de férias em Fortaleza no Ceará – fecho os olhos e ainda sinto o cheiro do mar. A chuva é sempre bem-vinda e quando ela cai, não tem como não pensar em Pedro II. As primeiras mulheres aviadoras da Força Áerea Brasileira, cortaram o céu de Pirassununga/SP – da terra aplaudia, enquanto chorava de emoção. Pirinópolis em Goiás, respirei cultura e me alimentei de carinho.

      As cidades protegem suas crias. No interior do Ceará eu adormeci ouvindo o som das águas de um rio – lembranças de Uruburetama. Tomei um chop, num barzinho que fica no cruzamento da Ipiranga com a av. São João – ouvir Caetano Veloso para conhecer São Paulo. Só em Cristino Castro, no sul do Piauí tomei banho sob a luz do luar em um poço de água jorrante. Araguarina no Tocantins, será sempre lembrada por permitir um descanso revigorante.

      As cidades miram o horizonte na busca dos sonhos de seus rebentos. Brasília se mostrou grandiosa e acolhedora – paixão a primeira vista. Pensar em Imperatriz no Maranhão, é sentir o sabor delicioso de um arroz de cuxá – Irresistível! O Memorial da América Latina em São Paulo faz você se sentir cidadão do mundo. É olhar o Pão de Acuçar e ver que a generosidade da natureza com o Rio de Janeiro é imensurável. Crianças correndo nas estradas, apontavam que entrávamos em Buriticupu no Maranhão. Uma cidade simples que surpreende pela beleza, falo de Ceres, incravada no centro de Goiás. Vi o Maracatu invadir as ruas de Olinda e fiquei fascinada pelo deleitável rítmo. Em Brasília participei, acompanhei e assisti grandes manifestações populares – a voz do povo, ultrapassando as fronteiras . No La-Kondê Show Bar, em Pedro II, sinto cheiro de cultura e poesia – um ar de romance e uma brisa leve que me cativa. Sempre saio do  Mercado Central de Teresina empregnada pelo aroma dos temperos e ervas, que se misturam com o meu suor – perfume quente que me mostra a vida.

      As cidades são generosas nas sua bênçãos. E as cidades somos nós.