Marieta, Uma Prostituta Singular

 

A pequena Marieta nunca foi prostituta de profissão. “Um passatempo, apenas.”

Ao final da tarde, colocava-se na esquina da Eufrásio Xavier com a Duque, ao lado da Praça do Sossego, vestindo sua indumentária sedutora e sempre curta, insuficiente às moças de família, e sorria aos homens passantes. Homens acompanhados. Solitários. Apressados. Tranquilos. Vez ou outra, um parava para uma conversa despretensiosa. “Nada” – respondia ela quando perguntada sobre o preço do passeio. “Não cobro nada. Faço por passatempo, apenas”. Risadas. Piada. Brincadeiras. Nada era razoável frente à insistência ao custo do programa. Ela sempre repetia a mesma história do “passatempo” e, quando colocada à prova, saía com o desconhecido e não cobrava. E sempre recusava as gorjetas. Em diversas ocasiões, teve de devolver o dinheiro, esconder nos bolsos das calças dos homens, em sono, e, quando não conseguia assim fazer, entregava as poucas notas, o que vale um amor sem amor, a quem quer que cruzasse seu caminho, na rua, em qualquer lugar. Já colocou notas no lixo. E há quem pense ser isso absurdo. “Haveria filas de homens na Praça do Sossego”, diria o polemista. A vida é feita de pequenos motivos. E ser mulher de programa era o seu motivo. Talvez o único. Mesmo assim, a situação se agravava: e passaram noites e mais noites em que a Marieta dormia sem encontrar homens dispostos a fazer sexo sem pagar.

Cada vez mais raros. Os poucos restantes, para ela, não eram prazerosos, pois, pela cortesia de amor, pela gratuidade, não tratavam seu corpo como pertencente a uma verdadeira prostituta. Há tempos ela não apanhava, não era mordida, não era invadida de forma danosa à sua dignidade feminina. Os empalamentos eram sempre por conivência. E isso a aborrecia. E a aborreceu dia após dia. Até o instante em que, na esquina, na velha esquina, solitária de coração e de alma, sem homens, sem prestígio, sem motivos maiores para viver, ela tirou sua sandália de veludo e, de pés no chão, voltou para sua casa caminhando. As lágrimas de mulher rejeitada escorriam.

 

 

 * Luiz Henrique Dias é dramaturgo, Encenador da Cia Experiencial O Teatro do Excluído, Membro do Núcleo de Dramaturgia SESI – PR/Teatro Guaíra e Presidente da Academia de Letras de Foz do Iguaçu. Leia mais em: www.luizhenriquedias.com.br ou siga ela no Twitter: @LuizHF