O lançamento de Paulo Fonteles Sem Ponto Final ocorreu na sala onde ocorriam os julgamentos do tribunal militar de primeira instância, durante a ditadura militar. Falaram no ato, pela Fundação Maurício Grabois, Leocir Costa Rosa e Renato Rabelo, pelo Instituto Paulo Fonteles, Angelina Di Angelis, Moisés Alves e Pedro Fonteles, o autor da biografia Ismael Machado, pela OAB-SP, Antonio Funari Filho, pela CPT, padre Antonio Naves, o deputado Orlando Silva, pela Cebrapaz, Socorro Gomes e pelo Núcleo Memória, Maurice Politi.

Numa noite plena de memórias e relatos sobre a cativante atuação de Paulo Fonteles, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, destacou a juventude com que o camarada foi executado, cheia de promessas. Fonteles tinha apenas 38 anos, mas já era dono de uma rica e densa trajetória. “Um inesquecível camarada, destacado militante e dirigente do Partido Comunista do Brasil. Tive o privilégio de atuar junto com ele na luta pela reestruturação do Partido e no início da redemocratização e a conquista da legalidade do Partido, em plena fase de realização da Assembleia Constituinte de 1988”, lembra Renato. A morte espantosa de Fonteles se deu em meio a um momento de grandes conquistas da redemocratização.

“Tínhamos o papel de reconstruir o partido depois de cruenta violência contra os dirigentes e militantes do Partido. Tínhamos que ocupar o honroso lugar de veteranos mortos”, assinala ele. Devido ao cenário de entusiasmo e perspectivas, Renato diz que a morte surpreendente do militante paraense foi recebido como “raio em céu azul” e deixou o Partido perplexo.

Renato diz que Fonteles era um apaixonado pela vida e a luta pelos deserdados. “A luta chegava a estar acima da sua própria vida”. O dirigente comunista elogiou a riqueza com que Ismael Machado traz à vida Paulo Fonteles e sua luta. “Ismael expõe de forma primorosa sua trajetória, desvendada com profunda acuidade. Como ele diz, esse personagem fascinante”.

Ele citou um trecho da biografia, em que Machado escreve: “Era um homem imperfeito, cheio de pressa pelo fazer, ávido por alcançar a utopia. Atropelava-se aqui e ali, mas era antes de tudo um ser humano leal, íntegro”.

“Ismael traz ao vivo, de forma simples e tão real, o militante comunista, o advogado do mato, o deputado do povo, sua grandeza e imperfeição. Tive marcante sensação de estar reencontrando com Paulo Fonteles, com seu riso expressivo. Foi uma sensação muito forte”, relata ele.

Mas Renato não poderia deixar de mencionar a emoção de estar naquele local de triste memória para a luta social. O Memorial da Luta Pela Justiça é, para ele, a representação da memória dos advogados e presos políticos. “Uma nação sem memória e história é débil e sem perspectiva, sem argamassa e cimento que a sustente. Este lugar é simbólico da repressão institucionalizada e do arbítrio”. Renato lembrou que militantes destacados até hoje, como Aldo Arantes, Haroldo Lima, Vital Nolasco, e muitos outros, foram julgados nas encenações farsescas daquela sala, já que estavam todos previamente condenados. Renato se lembra particularmente de estar passando pelo prédio, quando viu Luis Travassos sendo preso. Algo que o deixou bastante perturbado por muito tempo.

Renato Rabelo também comentou a ironia de conquistar um espaço simbólico como aquele, vivendo sob uma nova forma de arbítrio jurídico. “Vivemos uma situação de exceção de novo tipo, com forma aparente de normalidade institucional, mas com um estado de exceção sob tudo isto. Estamos vivendo o que aconteceu nesse lugar de outra forma. Um regime que quer tirar de cena as forças populares progressistas de esquerda e o maior líder popular, que é Lula”, analisou.

O ex-presidente Lula, quando de sua prisão, durante a ditadura, também passou por aquele prédio da Rua Brigadeiro Luís Antônio, 1249. E, agora, encontra-se preso, novamente, por uma ditadura não mais de militares, mas de juízes. Para Renato, a resistência em torno da libertação de Lula tem enorme importância para que se reconquiste a democracia.

E, finalmente, Renato lembrou o carinho e entusiasmo com que Paulo Fonteles Filho tratava o legado do pai. “Paulinho herdou não só o nome, a militância no PCdoB, mas as virtudes, os sonhos e até as idiossincrasias  do pai. Era um intrépido advogado dos direitos humanos e sociais. Também foi ameaçado de morte pelos donos de poderes do Pará. Como disse Ismael, o seu livro só existe porque Paulinho Fonteles o sonhou”, concluiu. Paulinho faleceu em outubro de 2017, durante os preparativos para o lançamento da biografia do pai.

Assista à íntegra do evento e veja a galeria de fotos: