À frente do primeiro debate do dia, Olival fez um histórico da criação do modelo de universidade brasileiro e referenciou 3 momentos principais de desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no país: as décadas de 1930, 1950 e 1970. O professor ressaltou contradições que marcaram os momentos centrais de desenvolvimento da política de C&T no país com o momento político que vivia a sua população e ressaltou que esses três momentos foram entremeados por esvaziamento das políticas de C&T, como o período JK e as décadas de 1980 e 1990.

Momento atual da C&T no Brasil

Quanto ao momento atual, o presidente do CCT acredita que ações de cunho estratégico marcam a preocupação do Ministério, especialmente em termos de desenvolvimento tecnológico. Como exemplo, Olival citou o anúncio feito pelo ministro Marco Antônio Raupp (MCTI) de que a Embraer lançará o primeiro satélite geoestacionário brasileiro.

Olival pautou também a relação das políticas de ciência e tecnologia com o desenvolvimento do país: “o sucesso ou fracasso do projeto de ciência e tecnologia está vinculado ao sucesso ou fracasso do governo Dilma em termos de desenvolvimento nacional”, afirmou. Por fim, avaliou que um dos principais gargalos de tal política é a questão da Inovação. Embora tenha citado importantes políticas do governo no sentido de reverter esta cultura, Olival afirma que “não há resposta fácil” a tal questão.

Marxismo é ciência

O segundo debate foi iniciado pelo presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, que ressaltou o caráter científico reivindicado pela teoria marxista. Na opinião do presidente da Fundação Maurício Grabois, uma teoria científica só pode se atualizar contando com o que a humanidade produz de cultura e de conhecimento. “Portanto, o marxismo defende o avanço da ciência”, afirmou.

Adalberto Monteiro falou da história do movimento comunista no Brasil e a relacionou com a luta de ideias presente na sociedade em cada período. Em especial, deu o exemplo de uma ação positiva do partido junto à intelectualidade na década de 1950, assumindo algumas falhas nessa relação ao tempo em que valorizou o êxito da organização comunista em aproximar figuras como Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré, entre outros.

Papel da Fundação Maurício Grabois

O presidente da FMG e integrante da comissão de formação do Comitê Central do PCdoB afirmou que o momento atual, em que os comunistas pela primeira vez compõem o governo federal e volta a ter um peso maior na sociedade, é propício para que o partido volte a buscar relação com a intelectualidade. Adalberto afirmou que a Fundação Maurício Grabois se propõe a ser o espaço dos quadros comunistas que lidam com este universo para estabelecer a construção de um pensamento marxista avançado.

Em seguida a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Elisangela Lizardo, falou sobre a atuação dos comunistas na ANPG e o impacto da nossa concepção de ciência e de sociedade no desenvolvimento do próprio espaço da entidade na sociedade brasileira – a ANPG compõe, atualmente o Conselho Superior e o Conselho Técnico Científico da Capes , além dos Conselhos Nacionais de Saúde e de Juventude, pleiteia assento no Conselho Deliberativo do CNPq e acaba de ser admitida como entidade filiada à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Militante e cientista

Para Elisangela, o desafio é garantir a possibilidade da militância em sinergia com o desenvolvimento da vida acadêmica dos militantes. “O desafio é capitalizar a organização da nossa força para a atuação, desde a ação mais local na universidade até a participação em atividades gerais, como em espaços da SBPC”.

A sinergia entre vida acadêmica e militante foi a principal defesa do secretário nacional de juventude do PCdoB, Júlio Vellozo. Para Júlio, a nova política de quadros do partido foi concebida no sentido de dar resposta à própria realidade, visto o próprio Programa do PCdoB avalia que vivemos também uma nova luta pelo socialismo, a qual tem como tática central o acúmulo revolucionário de forças.

Para ele, a atuação do PCdoB na universidade vem desmitificando uma ideia que havia de que os comunistas não seriam bem recebidos na Academia. A contradição que os militantes vivem é a exigência de dedicação da Academia por um lado e da militância por outro. Em resposta a isso, Júlio afirmou que “para o PCdoB é muito importante que seus militantes tenham carreira acadêmica brilhante” e finalizou dizendo que é possível conciliar as duas coisas.

Alternativas de militância

Quanto à forma de conciliação entre a vida acadêmica e a militante, Júlio Vellozo propõe três alternativas de atuação: participar de organismos de base do PCdoB nas universidades; ajudar nos debates teóricos do PCdoB; e atuar no Movimento Nacional de Pós-Graduandos, via ANPG, o que ele disse considerar o elemento mais sinérgico dos três.

A intervenção que encerrou as falas da mesa de sábado foi do secretário nacional de organização do PCdoB, Walter Sorrentino, que desafiou os presentes a se imaginarem daqui a 10 anos. Walter comparou o período de 20 anos atrás, que classificou como “período de regressão ideológica”- devido à opressão ao livre pensar instituído pela Ditadura Militar – com os próximos 20 anos da história do Brasil, que ele acredita eu serão interessantes. “É preciso estudar para se situar nos grandes acontecimentos históricos nesses próximos 20 anos”, afirmou Walter.

Sorrentino resgatou a política de quadros aprovada pelo 12º Congresso do PCdoB, que tem como fundamentos a consciência, a qualificação, a especialização e a representatividade e discorreu sobre cada um deles. Por fim, valorizou duas iniciativas do partido que oferecem perspectiva à militância que atua junto à intelectualidade: a primeira é o projeto Estudos Estratégicos, que tem produzido dossiês sobre diversos assuntos considerados fundamentais pelo partido – como o dossiê “Fronteiras da ciência, implicações produtivas e filosóficas”, que teve como curador o professor Olival Freire. A segunda iniciativa citada foi a formação do Coletivo Nacional de Pesquisadores Científicos, cuja proposta é ser um centro de elaboração e de acompanhamento, coordenado pelo professor Olival freire e composto por Elisangela Lizardo, Luciano Rezende e Felipe Maia.