Nomes como David Harvey, Fábio Konder Comparato, Maria Rita Kehl, Ricardo Antunes e Vladimir Safatle assinam manifesto contra a chamada “reorganização escolar” proposta pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que deve fechar dezenas de unidades de ensino e transferir milhares de alunos. Eles alertam que o projeto do governo tucano foi construído “a toque de caixa”, sem qualquer consulta, sob justificativas “frágeis ou questionáveis”.

“Nós, intelectuais, artistas e figuras públicas que de maneira suprapartidária subescrevemos esse manifesto reivindicamos, para o bem da cidadania e da escola pública, a suspensão imediata da ‘guerra’ contra os estudantes adolescentes bem como desse projeto de reorganização para que de uma vez por todas se escutem as vozes das escolas e comunidades que são as mais interessadas e com quais deve se pensar a educação”, diz trecho do documento.

Paulo Miklos, que também subscreve o manifesto, criticou a falta de diálogo de Alckmin com a comunidade, em entrevista recente ao jornal O Estado de S. Paulo. Miklos também está entre as centenas de artistas e produtores inscritos para a Virada Cultural, evento que deve ser realizado em ocupações de estudantes paulistas neste final de semana, em apoio ao movimento coordenado pelos jovens. Estão confirmadas as participações de Criolo, Maria Gadú e Edgar Scandurra. Os shows devem acontecer em duas escolas, que serão divulgadas uma hora antes do evento, por motivos de segurança.

Leia o manifesto dos intelectuais e artistas na íntegra:

Não fechem as nossas escolas! Respeitem os estudantes!

Não bastasse o atual estado crítico do ensino básico – com salas superlotadas, baixíssimos salários para docentes e funcionários e péssimas condições de trabalho –, o governo Geraldo Alckmin impõe uma mudança de grande porte à rede de ensino paulista, fechando mais de 90 escolas, encerrando períodos inteiros, removendo milhares de estudantes de suas escolas, impactando a vida de milhares de famílias e ameaçando o emprego de professores em todo estado.

O projeto de “reorganização” foi construído a toque de caixa, sem qualquer consulta às comunidades, sem audiências efetivamente públicas, sem tempo hábil de se fazer o real debate sobre as necessidades das escolas e o mérito da iniciativa. Como tem sido demonstrado em muitos estudos que contestam o projeto, suas justificativas são muito frágeis ou questionáveis. Não por acaso, em sua versão oficial que acaba de ser publicada, a reorganização foi baixada por decreto, sequer apresentada aos parlamentares estaduais.

Para agravar a situação, de forma covarde o governo conclama a uma “guerra” contra os estudantes que tiveram que ocupar suas escolas para serem ouvidos. Estão amplamente registrados todos os tipos de agressão, intimidação, coação e diversas ilegalidades por parte da polícia e de agentes públicos na tentativa de “desqualificar” ou “desmoralizar” o movimento enquanto se supostamente se consolida o projeto como um fato consumado.

Ao contrário das tentativas, o que temos visto são estudantes com muita convicção e firmeza, reforçando como nunca sua identidade com as escolas, cuidando dos espaços públicos, sendo protagonistas das programações de aulas públicas, de eventos culturais e esportivos.

Nós, intelectuais, artistas e figuras públicas que de maneira suprapartidária subescrevemos esse manifesto reivindicamos, para o bem da cidadania e da escola pública, a suspensão imediata da “guerra” contra os estudantes adolescentes bem como desse projeto de reorganização para que de uma vez por todas se escutem as vozes das escolas e comunidades que são as mais interessadas e com quais deve se pensar a educação.

Primeiros signatários:

Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Geografia – USP)

Cesar Cordado (Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça)

Christian Dunker (Psicologia – USP)

Cibele Lima (Rede Emancipa de Educação Popular)

Cilaine Alves Cunha (Literatura – USP)

Ciro Correia (Geologia – USP)

Cristiane Gonçalves (Políticas Públicas e Saúde Coletiva – Unifesp)

David Harvey (CUNY – Nova York)

Fábio Konder Comparato (Direito – USP)

Franciso Miraglia (Matemática – USP)

Frederico de Almeida (Ciência Política – Unicamp)

Gilberto Cunha Franca (Geografia – Ufscar)

Gilson Schwartz (Cinema, Rádio e TV – USP)

Gregório Duvivier (Ator e escritor – Porta dos Fundos)

Guilherme Boulos (Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST)

Henrique Carneiro (História – USP)

Homero Santiago (Filosofia – USP)

Isabel Maria Loureiro (Filosofia – Unesp)

Luciana Genro (Presidenta da Fundação Lauro Campos e ex-candidata à Presidência pelo PSOL)

Manoela Miklos (Produtora Cultural)

Márcia Tiburi (Filosofia – Mackenzie)

Márcio Seligmann-Silva (Teoria Literária e Literatura – Unicamp)

Marcos Barbosa de Oliveira (Prof. Colaborador, depto. Filosofia, FFLCH-USP)

Maria Cecília Wey (Aliança pela Água)

Maria Rita Kehl (Psicanalista, jornalista, ensaísta, poetisa, cronista e crítica literária)

Mariana Fix (Urbanista – Unicamp)

Mario Schapiro (professor FGV Direito SP)

Marussia Whately (Aliança pela Água)

Mauro Pinto (Advogado OAB-SP)

Marcos N. Magalhães (IME – USP)

Miranda (Coordenador do Movimento Negro Socialista – MNS)

Otaviano Helene (Física – USP)

Paulo Eduardo Arantes (Filosofia – USP)

Paulo Miklos (Vocalista do Titãs)

Plínio de Arruda Sampaio Jr (Economia – Unicamp)

Ricardo Antunes (Unicamp)

Ricardo Musse (Sociologia – USP)

Rosa Maria Marques (PUCSP)

Ruy Braga (Sociologia – USP)

Sara Del Prete Panciera (Saúde, Educação e Sociedade – Unifesp)

Vladimir Safatle (Filosofia – USP)