Em entrevista ao Vermelho, esse militante histórico do PCdoB fala sobre sua luta social e as dificuldades de exercer um mandato em meio à repressão da ditadura. Aurélio Peres enfatizou o protagonismo dos movimentos sociais e a necessidade de os partidos revolucionários defenderem bandeiras sociais amplas.

Vermelho: Como foi o início de sua militância comunista?
Aurélio Peres:
Eu era camponês e comecei na luta social em Santa Fé, interior de São Paulo. Foi uma experiência inédita porque, após o Julião [Francisco Julião, fundador das Ligas Camponesas], não havia nenhuma outra experiência ligada ao campo. Santa Fé foi uma retomada do movimento.

Nós éramos arrendatários de fazendeiros e tínhamos um contrato de dois anos para derrubar a mata, plantar e depois devolver a terra plantada de capim. Digo “nós”, mas na verdade eu não era arrendatário apenas me integrei à luta. O pessoal perdeu duas safras por problemas climáticos e eles iam ter que entregar a fazenda sem ter recebido nada pelo trabalho de desmatamento.

Eles tentaram negociar com o fazendeiro, mas este disse que não tinha acordo. Então, os camponeses se reuniram e tomaram a decisão de arrancar o capim. Foi a operação “Arranca Capim”. Começamos às 2 horas da madrugada de uma noite enluarada e quando foi às 6 horas da manhã já não tinha mais nenhum capim plantado.

Vermelho: Como você se integrou ao movimento?
AP:
A cidade era pequena e eu era ligado à Igreja. Tínhamos um pároco aberto aos problemas sociais e que estimulava a participação. Depois, com o aparecimento do pessoal da AP (Ação Popular), a coisa facilitou porque eles já tinham conhecimento político e estratégico. Ficamos nessa luta por cerca de cinco anos e quase saímos vitoriosos. Costumo dizer que fomos derrotados na verdade pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo).

A fazenda era na beira do Rio Paraná, e a Cesp estava planejando a barragem de Ilha Solteira. Pedimos um financiamento público para comprar as terras. O empréstimo seria cedido para uma cooperativa – que nós fundamos e registramos. Para fazer o empréstimo tinha que ter uma avaliação da Cesp, porque a área ia sofrer inundação. Ela deu o parecer contrário e foi o suficiente para as forças reacionárias dizerem “então não”. Fomos despejados e veio uma proposta do governo para levar o pessoal para um assentamento no Mato Grosso, divisa com o Paraguai.

Vermelho: Você foi o primeiro deputado federal do PCdoB durante o regime militar. Como foi o processo de candidatura?
AP:
Às vezes até arrepio quando falo dessas coisas. Nunca imaginei ser deputado. Eu coordenava o Movimento do Custo de Vida em São Paulo, e foi ele que nos impulsionou a participar das eleições. O Movimento do Custo de Vida decidiu que iria lançar um candidato a deputado estadual e um ao cargo de deputado federal. Para estadual foi escolhida a Irma Passoni e para federal a escolha recaiu sobre Aurélio Peres.

Só que Aurélio Peres não era registrado em partido legal e não era elegível. Eu respondia processo porque havia sido preso em 1974. Tinha sido absolvido em primeira instância, mas havia recurso na segunda instância. Como o movimento não estava pensando em eleger, e sim participar e fazer um protesto, nós lançamos a candidatura assim mesmo. Se não fosse aprovada, a candidatura por si só já seria um protesto.

Como não tínhamos legenda, o (Orestes) Quércia — que era presidente do MDB em SP — veio em nosso socorro. O prazo para filiação já havia acabado, mas ele disse que não tinha problema. Preenchi uma ficha sem data e ele falou que ia dar um jeito. Fui inscrito no MDB com data retroativa e a candidatura saiu. Esse foi o primeiro passo.

Mas, quando chegou no registro da candidatura, ela foi rejeitada. Continuamos a campanha porque o objetivo era o mesmo protesto. Decidimos lutar até o fim. Faltando três dias para expirar o prazo de registro, fui absolvido e minha candidatura vingou. Continuamos a campanha e a eleição confirmou minha vitória.

Vermelho: Como foi a experiência de defender as bandeiras progressistas do partido em meio à ditadura militar?
AP:
Eu era um camponês-operário que nunca tinha ouvido falar em Câmara dos Deputados. Nunca pensei nisso. Eu pensava: “Vou fazer o quê?”. Eu sabia era fazer agitação, mas subir numa tribuna para defender uma causa parlamentar; jamais. Fui com a cara e a coragem para Brasília.

Meu primeiro mandato eu passei com muita dificuldade. Cheguei a redigir uma carta de próprio punho renunciando ao meu mandato. Só não entreguei a carta porque a Conceição (a esposa Maria da Conceição Peres) e o Antônio Carlos — jornalista do Movimento, que era quem me dava alguma assessoria — me ajudaram a refletir e me convenceram que eu não devia renunciar. Acabei usando o meu mandato para as lutas populares.

Minha estrutura em Brasília foi colocada, durante um certo tempo, a serviço da luta pela Anistia. Me tornei amigo inseparável de Teotônio Vilela e viajamos o Brasil todo visitando presídios e ouvindo a opinião dos presos políticos. Meu gabinete e meu apartamento também funcionaram como a sede da UNE . A UNE estava em processo de reestruturação. Num período de quatro anos, recebi duas advertências da Secretaria da Câmara por uso indevido do apartamento. Não importava. Eu sabia que era indevido, mas também era justo.

Vermelho: Como você mesmo vinha da classe operária, o seu mandato também contribuiu muito com a luta da classe trabalhadora da época. Como foi a atuação do operário deputado?
AP:
O movimento operário também se apoiou muito na estrutura do meu mandato. Quantas pancadarias nós evitamos com o meu simples mandato?! Quantas vezes o Coronel Rigonato — que era o comandante da Tropa de Choque de São Paulo — teve de recuar porque tinha um deputado na frente da greve? Era um deputado qualquer, mas era um deputado.

Vermelho: Que lições extrair do método de atuação política do PCdoB naquela época? Quais ensinamentos podem ser utilizados nos dias de hoje?
AP:
Uma lição que eu levantaria e que acredito que o PCdoB entendeu muito bem é que ele tem que mergulhar na luta de massas. O meu mandato, em função disso, rendeu muitos frutos: a luta pela Anistia, a estruturação da UNE, o apoio ao Movimento do Custo de Vida — que depois se tornou Movimento da Carestia —, o apoio aos aposentados, aos operários, às greves. O meu mandato ajudou muito.

O partido extraiu muitos ensinamentos daquela época, mas ainda deveria mergulhar mais fundo ainda na luta de massas. É da luta de massa que saem os grandes elementos que irão dirigir o partido depois. Isso é um viveiro de elementos novos e de valores. É preciso extraí-los da massa, burilá-los, lapidá-los e colocá-los à frente da luta.

Vermelho: A violência foi uma das marcas do período da ditadura. O que significou a morte de Santo Dias da Silva para você?
AP:
O Santo Dias era mais do que um amigo — ele era da família, um companheiro muito interessante. Ele não era um homem arrojado, atuava mais na linha da conciliação, mas era um homem que não recuava. Quem se sentia apoiado por Santo Dias se sentia seguro. Isso era muito importante para nós na luta naquele período.

Perdemos o Santo Dias numa luta boba, que não era nossa. Foi numa greve decretada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que era uma pelegada terrível — mas, como a greve era justa, apoiamos. Fomos fazer piquete na porta das fábricas.

Existem controversas hoje sobre se o Santo Dias foi escolhido ou foi acidental. Na minha opinião, foi acidental — mas o que importa é que ele foi atingido. Nós perdemos o Santo Dias numa greve que não era nossa, mas naquela época qualquer coisa que surgisse era importante e fomos de corpo aberto ao apoio.

Vermelho: Como vocês reagiram a essa perda?
AP:
A morte de Santo Dias acabou resultando depois em um grande avanço. Ela estimulou a base a lutar mais. Tanto que o enterro de Santo Dias foi uma demonstração de que a ditadura estava temendo. Foi um negócio incrível. A ditadura recuou e recolheu as Forças Armadas para o quartel. O preço que nós pagamos foi alto, mas ele não foi em vão.

Vermelho: Nesse contexto, como você avalia a participação do PCdoB e das demais forças democráticas na luta contra a ditadura?
AP:
Jogamos um papel importante. Éramos um grupo que enxergava bem à frente. O PCdoB jogou o papel de alguém que enxergava à frente — e me parece que é esse o verdadeiro papel de um partido revolucionário. Ele era uma força política que enxerga mais do que os outros e que, por isso, mostrava o caminho, mesmo na clandestinidade.

Muita gente que participou da organização, que esteve à frente – mostrando o caminho – nunca apareceu como sendo do PCdoB. Esse me parece o papel fundamental do PCdoB nessas lutas todas: uma espécie de desbravador de caminhos. Embora muitas vezes ninguém percebesse, o papel foi fundamental. Acho que a luta contra a ditadura se perdeu um pouco ao longo do caminho.

Estamos até hoje discutindo o problema da anistia, que é uma coisa tão simples. Como você vai anistiar os torturadores? Eles estão todos aí, foram todos anistiados. E foram inclusive muitas pessoas que lutaram contra a ditadura que votaram nessa lei que anistiou os torturadores. Isto porque era gente que enxergava curto. Poderíamos ter um país muito mais democrático e avançado se tivéssemos ido mais a fundo nessa questão. Temos democracia hoje, mas em minha opinião ela ainda é relativa.

Vermelho: Como foi a atuação do Movimento Contra a Carestia, do qual o você e a sua mulher, Maria da Conceição Peres, foram fundadores?
AP:
Em São Paulo, existia um movimento de Clubes de Mães cujo objetivo inicial era ensinar as mulheres a bordar, costurar e orientar sobre os cuidados com os filhos. Esse movimento se espalhou pela periferia. Chegamos a ter 200 Clubes de Mães, com uma média de 10 a 15 mães, que se reuniam uma vez por mês — isso apenas na região de Santo Amaro (zona sul de São Paulo). Mas também tínhamos Clubes de Mães na região leste, norte, no ABC, em Guarulhos. A ditadura não havia percebido esse movimento.

Só que chegou um momento em que veio a pergunta: o que fazer agora? Nós vamos continuar ensinando a costurar, tricotar e mexer com criança? Assim não vamos a lugar nenhum. Então, a resposta foi a necessidade de politizar o movimento. Fizemos uma pesquisa e o que as mães mais sentiam era a carestia. Chegamos à conclusão — a Conceição, a Irma Passoni e eu — de que devíamos fazer uma carta e enviar ao Congresso e à Assembleia Legislativa pedindo o congelamento dos preços.

Esta carta deu muito o que falar. Saiu a ideia então de fazer o abaixo-assinado. Fui designado para lê-la no Sindicato dos Metalúrgicos, o que causou também minha prisão. Aquilo que era apenas um Clube de Mães começou a ter uma atenção maior, e eu fui preso pelo regime. Reunimos 1,3 milhão de assinaturas, colhidas principalmente pelas mães, em plena ditadura. Esse movimento da coleta de assinaturas foi muito importante porque abriu o leque.

Havia também estudantes da USP, da PUC, do Mackenzie, trabalhando em cima dessas assinaturas. Foi muito interessante. O material depois foi entregue em Brasília, já no meu mandato. O movimento mostra o quanto é importante trabalhar em cima de bandeiras amplas. O trabalho de massa, se não for feito com bandeiras amplas, tem vida curta.

Vermelho: Essa experiência mostra a importância da participação da sociedade civil organizada no exercício da democracia e na luta por seus direitos?
AP:
O Movimento da Carestia unificou todos os setores — porque todos sentiam o problema da carestia com os salários arrochados. Todos cabiam nessa mesma bandeira. A Igreja jogou um papel importantíssimo porque ela tinha a estrutura disponível. Nós tínhamos o carro da Igreja para nos deslocar, tínhamos um local para fazer as reuniões e a autoridade religiosa nos apoiando. Quantas pancadas nós evitamos com o apoio de bispos e do cardeal. Inclusive a minha vida eu devo a um cardeal.

Vermelho: Como foi o episódio da sua prisão?
AP:
Devo a minha vida a Dom Paulo Evaristo Arns. Se a denúncia da minha prisão não tivesse chegado rapidamente até a Cúria Metropolitana — e a Cúria não tivesse acionado o comando do Segundo Exército —, eu teria sido liquidado. Ele ligou para o comandante e disse: “Eu tenho um militante preso com vocês”. Eles disseram que não, mas ele deu meu nome e identidade completa, e não houve como negar.
Entrei na sala de tortura sem capuz. Se eu vir os meus torturadores hoje, eu os reconheço. Fui torturado por 27 horas ininterruptas. Foi só depois da intervenção da Igreja que eles me colocaram o capuz. A tortura não parou, mas seguiu de uma maneira diferente. Não era mais para matar. Eu fazia parte da lista em que estavam incluídos Manoel Fiel Filho e Herzog. Eles dois foram assassinados.

Vermelho: Você é reconhecido como um dos grandes líderes do sindicalismo classista. Como foi participar da luta operária?
AP:
A Conceição e eu sempre falamos sobre isso. Se por um lado o mandato parlamentar ajudou — e não há dúvidas de que ajudou —, nós acreditamos que ele poderia ter sido exercido por um outro elemento. Tive que sair para exercer essa tarefa e deixei um vácuo no movimento operário. Nós lamentamos muito essa lacuna deixada.

Naquele momento não existia um elemento à altura para assumir a vaga deixada por mim no movimento, e isso causou um prejuízo enorme. O sindicato mais importante naquele período era o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Nós poderíamos ter aquele sindicato nas mãos, se tivéssemos continuado o trabalho. Cometemos alguns erros, mas não tenho dúvidas de que, mesmo com os erros, se eu não tivesse me afastado, nós teríamos aquele sindicato nas mãos.

Vermelho: Mas qual era a importância do movimento operário naquela época?
AP:
O movimento sindical estava nas mãos de pelegos e não saía daquilo. Os pelegos jogavam um papel de apoio à ditadura — vocês não são capazes de imaginar o que isso significa. Tanto que um operário mais consciente não conseguia arrumar emprego em uma indústria grande. Se você tentasse entrar em uma empresa grande, logo perdia o emprego e corria o risco de ser preso.

Eu entrei na Metal Leve — que era uma indústria grande na época — e fui mandado embora depois de 60 dias, sem motivo nenhum. Logo depois fui descobrir que o secretário-geral dos Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo era da Metal Leve. A luta sindical era importantíssima!

Vermelho: Como você analisa o papel das seis sindicais (CUT, CTB, Força Sindical, UGT, CGTB, Nova Central) legalizadas pelo Ministério do Trabalho que atuam no país atualmente?
AP:
Essas entidades todas estão engessadas. O movimento sindical como um todo está engessado. É preciso quebrar esse gesso.

Vermelho: Mas como quebrar esse gesso?
AP:
Não sei se é batendo com marreta ou com ponteiro, mas é preciso quebrar.

Vermelho: Lênin dizia que era preciso um esforço para transformar cada fábrica em uma fortaleza do comunismo. Como você vê o empenho para a construção de um partido da classe operária?
AP:
A realidade mudou. Se Lênin estivesse aqui hoje, talvez não dissesse isso. Hoje não existem mais aquelas fábricas de 24, 25 mil operários. Na época da ditadura, tínhamos uma compreensão de que cada fábrica deveria ter um comitê revolucionário. Só não conseguimos isso porque a repressão era forte demais.

Se você quer uma revolução mesmo, ela tem que ter estruturas nessas bases. Não estou dominando bem o quadro hoje, mas não vejo grandes aglomerações. Mesmo assim, continuo defendo que a organização partidária deveria ter em mente os locais de trabalho. É preciso olhar para o trabalhador em geral.

Vermelho: O que significou a eleição de Lula em 2002 — o primeiro operário presidente da República?
AP:
Acho que um dos grandes avanços foi justamente um operário chegar ao poder. Isso mostrou que um operário tem cabeça — um operário não é só a unha cheia de graxa. Para governar um país, não é preciso ser um intelectual apenas. É necessário ter uma visão estratégica. Embora o Lula tenha suas deficiências ideológicas, ele sempre teve uma visão longa.

Acho que o país avançou. Embora não tenha conseguido barrar todas as mazelas dessa sociedade, ele foi um freio. Ele nunca apoiou a corrupção e a malandragem. Apenas o fato de termos um presidente que não apoiou a corrupção já é um grande avanço. Nossa sociedade é corrupta e os políticos são um espelho dela.

Lula defendeu a democracia. Isso me parece fundamental. Uma revolução precisa desses patamares para dar um salto maior. A revolução socialista nunca vai acontecer se não tiver essa base.

Vermelho: E com relação a Dilma Rousseff, o que esperar de uma presidente com um passado de luta revolucionária?
AP:
Conheço pouco da Dilma, mas, se você pensar em simbologia, é muito importante. O fato de ela representar atualmente o movimento das mulheres é um negócio muito forte. Sua origem revolucionária , embora de visão curta, também é algo importante. Digo de visão curta porque em minha opinião todos aqueles que partiram para a guerrilha na época enxergaram curto.

Vermelho: Até mesmo o PCdoB, com a Guerrilha do Araguaia?
AP:
Até nós. Um dos argumentos que eu uso hoje é que nós temos necessidade dos grandes quadros que perdemos lá. Não vou dizer que o movimento não foi importante, mas o prejuízo também foi grande.

Vermelho: Quais são suas expectativas de continuidade dos avanços conquistados por Lula, no governo Dilma?
AP:
Acho que, se a Dilma não se embriagar pelo poder – porque ele embriaga –, ela tem condições de avançar. Na linha que o Lula vinha, acho que ela pode avançar mais. Ela tem estrutura e apoio para isso — é só não se fascinar.

Vermelho: Recentemente o PCdoB prestou uma homenagem a você em Brasília. Como foi retornar para a cidade e encontrar seus ex-camaradas de luta?
AP:
Isso me deixa feliz. O partido se esqueceu de valorizar as suas lideranças, e acho que isso está sendo corrigido. Pouco tem sido feito para jogar essa imagem para o público, e a grande massa precisa saber disso. Acho importante — não pelo meu merecimento mas pelo próprio partido — que precisa de divulgar.

Me emocionou muita a posição da Nádia [Nádia Campeão, presidente do PCdoB-SP] quando disse, no Congresso do partido, se referindo a mim: “Esse foi um desbravador”. Nunca tinha imaginado que eu tivesse sido um desbravador, mas depois, pensando bem, percebi que desbravei mesmo. O povo tem que saber quem lutou, como lutou e o que fez. Não fui só eu. É preciso pegar outros nomes. O partido tem uma história e ela é importante.

Vermelho: Você é conhecido por manter uma vida modesta mesmo depois de ter exercido dois mandatos como deputado federal. Como você vê os políticos que usam seus cargos para o enriquecimento pessoal?
AP:
Isso é uma deturpação da estrutura política do país, não é pessoal. O problema da avareza, do dinheiro, da riqueza, do nome, nunca deixou de existir na massa. Esse pessoal poderia ter sido impedido de ter acesso ao poder se tivéssemos outra estrutura política. Ou você tem uma estrutura corrupta na mão ou tem o bolso cheio.

Veja se sobra uma legenda para os operários — e, se sobra, veja se ele consegue se eleger… O problema dos homens que estão lá em cima, avarentos por dinheiro e cargos, é fruto da estrutura político-partidária. As campanhas políticas hoje precisam ser financiadas pelo Estado, é preciso democratizar isso.

Quando assumi em 1978 eu tinha uma casinha para morar — num bairro periférico, que não tinha nem esgoto nem água tratada — e um fusquinha. Quando entreguei o mandato em 1987, eu tinha dois fusquetas e uma casinha um pouco maior no mesmo bairro. Melhorei a casa em função do trabalho, porque não tínhamos um salão para fazer nossas reuniões, e os encontros aconteciam na minha própria casa. Isso foi reconhecido pelo próprio Renato [Renato Rabelo, presidente do PCdoB] no dia da homenagem. Ele disse que “a casa do Aurélio era a casa da mãe Joana”.

Vermelho: Você tem alguma saudade do tempo como parlamentar?
AP:
Não. Não me arrependo de nada, mas foram tempos muitos difíceis e não sinto saudades. Se eu pudesse, voltaria à luta sindical. Se eu pudesse, voltaria.

Fonte: Portal Vermelho