A imensa tarefa de escrever essa biografia foi enfrentada por Anita Leocádia Prestes (Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro, Editora Boitempo). Ela também traz a herança múltipla de ser filha de Prestes com outra heroína da luta pelo comunismo, Olga Benário Prestes, que ela não chegou a conhecer pois tinha pouco mais de um ano de idade quando foi entregue à sua avó, Leocádia Prestes, depois de intensa campanha internacional. Olga, como se sabe, foi assassinada pelos nazistas no campo de concentração em 1942.

Além disso, no futuro, Anita Prestes foi assistente de seu pai, entre 1958 até 1990, quando ele deixou de viver. Ela foi assim espectadora privilegiada, e participante, de toda a atividade política de Prestes num período que foi desde os tempos de democracia anteriores a 1964, depois sob a ditadura militar e, finalmente no período de legalidade depois da anistia e do fim da clandestinidade das lideranças comunistas.

Foi com estas credenciais de historiadora, filha e assistente pessoal que Anita Prestes escreveu esta que apresenta como uma biografia política, com acenos ao pessoal, de Luiz Carlos Prestes.

Maior liderança popular no Brasil, cujo prestígio só foi igualado por Luiz Inácio Lula da Silva décadas mais tarde, Prestes esteve presente na história da República desde o “tenentismo”, na década de 1920, até a volta à democracia, em 1985. O relato da história de sua vida é também a crônica não da política brasileira convencional, mas da luta do povo pela democracia, pelo progresso social e pela soberania nacional.

Com acertos e erros. Deste ponto de vista, Anita Prestes faz uma biografia equilibrada com base em inúmeros documentos originais, correspondência e entrevistas de seu pai. Pesquisou em arquivos, no Brasil e na URSS. Ela não fugiu dos problemas, mesmos dos mais espinhosos, como a morte da militante Elza Fernandes (codinome de Elvira Cupello Caloni) em fevereiro de 1936, por decisão da direção do PCB com base na suspeita de que ela colaborava com a repressão. Ou do reconhecimento das limitações vividas pelo PCB na década de 1960, período em que Prestes conviveu com os reformistas no partido e lutou contra aquela tendência, assegura ela.

Na trajetória longa e complexa de Prestes há acertos e erros, políticos e de análise. Isso é inevitável. O que precisa ser reconhecido é que Prestes jamais traiu o ideal comunista. João Amazonas, que nas décadas de 1950 e 1960 esteve na linha de frente do confronto dos revolucionários do Comitê Central com a tendência revisionista, reconhecia esta qualidade do velho dirigente. Certa ocasião, no final da década de 1990, depois de assistir ao documentário O Velho – A história de Luiz Carlos Prestes, Amazonas comentava que embora tivesse errado muito, ninguém podia duvidar de que Prestes fosse um homem honesto e um revolucionário.

Há uma história do comunismo no Brasil a ser contada. Não a história das organizações comunistas, mas do comunismo como movimento revolucionário cuja trajetória no Brasil já beira um século.

Já existe um conjunto de biografias que pode contribuir nesse sentido. A Editora Anita Garibaldi e a Fundação Maurício Grabois já publicaram as biografias de João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Elza Monnerat. Há também as histórias de vida de Carlos Marighela, Astrogildo Pereira, Olga Benário, Giocondo Dias, Otávio Brandão, Apolônio de Carvalho, Heitor Ferreira Lima, Gregório Bezerra – isso para falar apenas nos nomes mais famosos. A elas se junta agora a biografia de Luiz Carlos Prestes.