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Revelações de Diógenes Arruda Câmara: Organizando a UNE (5) TV Grabois

Bem, o nosso trabalho parece que rendeu bastante, porque nós levantamos o movimento sindical, organizamos uma união sindical de Salvador que agrupava naquele momento 64 sindicatos e fizemos lutas significativas. Me recordo que, no dia 1º de maio de 1940, fizemos uma passeata, em frente única de operários e estudantes, que foi da Praça Castro Alves até a Praça da Sé, ocupando toda a rua. Foi uma passeata por aumento de salários, por levantamento do movimento estudantil e contra o aumento da carne — chamado a luta contra o aumento da carne verde. Que era um monopólio da firma Magalhães.

Iza e Albino – Juracy Magalhães?

Arruda – Não. Os Magalhães que eram ligados a Clemente Mariani.(2) Das Casas Magalhães na Bahia, na Cidade Baixa. Que eram também usineiros, importadores e exportadores — eram magnatas na Bahia. Tinham bancos etc. Fizemos essa passeata no dia 1º e no dia 8 eu fui preso. Aí fui bastante torturado, em 1940. Bem, é preciso dizer que o nosso trabalho no movimento estudantil era de tal maneira significativo que nós tínhamos cinco professores e 96 estudantes na faculdade de medicina membros do Partido — o que era bastante significativo.

Albino – Entre eles Milton Caires de Brito...

Arruda – Entre eles Milton Caires de Brito, que era muito meu amigo e era o dirigente do Partido na faculdade de medicina.

Albino – Depois foi deputado por São Paulo...

Arruda – Depois foi primeiro-secretário do Partido em São Paulo, e deputado (federal) em São Paulo. Foi membro da Comissão Executiva do Partido, eleito na Conferência da Mantiqueira em agosto de 1943.(3)

Albino – Quer dizer: o Partido renasceu praticamente na Bahia. Depois da derrota de 35, do levante armado... quando ele voltou à legalidade... por exemplo, Prestes tinha passado dez anos na cadeia.

Arruda: O papel da Bahia foi grande no Partido da seguinte maneira: nós tínhamos, entre 37 e 40, o melhor trabalho sindical. Nós também consideramos correto participar de eleições municipais. E foi da Bahia que surgiu o movimento para a organização da União Nacional dos Estudantes. Me recordo que foi organizada a UEB (União de Estudantes da Bahia), tendo o Edison Carneiro à frente, o Aydano do Couto Ferraz, o Milton Caires de Brito etc. Eram estudantes pobres, que viviam nas chamadas repúblicas. Aí a UEB tirou um jornal, chamado Unidade.

Esse jornal pôde articular um movimento no Nordeste, o movimento estudantil, e foi a partir daí que se organizou a União Nacional dos Estudantes — depois do golpe do Estado Novo. O seu primeiro presidente chamava-se Antônio Franca. Era um estudante de direito, pernambucano — que depois desistiu da luta. Nesse tempo ele era membro do Partido. A Bahia deu uma contribuição significativa. Um jornalista muito conhecido, que trabalhou na Última Hora, por exemplo, chamado Medeiros Lima, foi um dos dirigentes da UNE nesse período. Era alagoano e dirigente da União dos Estudantes de Alagoas.