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CDM disponibiliza arquivos de jornais históricos dos trabalhadores

Desde outubro, o Centro de documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois disponibiliza o acervo digital dos jornais históricos do Partido Comunista do Brasil,Tribuna da Luta Operária (clique aqui para ver) e A Classe Operária (clique aqui para ver).
Ambos os acervos contém quase a mesma quantia de exemplares: embora Classe Operária seja publicado desde 1925, tem apenas 332 edições disponíveis para consulta, sendo que parte do acervo se perdeu nas inúmeras perseguições políticas da história brasileira. Tribuna da Luta Operária, existiu entre 1979 e 1988, publicando 362 edições, também em meio à turbulenta decadência do regime militar brasileiro, tendo perdido alguns exemplares.
A Classe Operária surgiu como órgão oficial do Partido Comunista do Brasil, e atravessou toda a trajetória, clandestina e legal, do partido com suas cisões e reorganizações, em meio à repressão oficial. A Tribuna da Luta Operária, por outro lado, surgiu com o propósito de também alcançar os trabalhadores que ainda não eram comunistas, num período de reorganização do partido, após violentas investidas da ditadura militar.
Orgulho de ser tribuneiro
A Tribuna começa a ser editado ainda durante a ditadura, com o início de seu desmoronamento e em meio aos debates sobre a anistia. Junto com a anistia, as greves operárias e a reconstrução da UNE, o lançamento da Tribuna foi mais um marco de enfrentamento ao regime militar.
Durou quase nove anos. Deixa de ser produzido logo após o 7º. Congresso do PCdoB, ocorrido às vésperas da queda do Muro de Berlim. Deixar de veiculá-lo foi uma decisão consciente da equipe, que preferia focar na divulgação de A Classe Operária, que é publicado ainda hoje. Embora houvesse a intenção de relançar a Tribuna Operária num patamar à altura dos novos tempos, foi com o portal Vermelho, em 2002, que se concretizou esta meta, a partir de uma plataforma na internet que se tornou a referência de esquerda que a Tribuna foi à sua época.
Observando o acervo, é possível perceber que A Tribuna tinha uma pauta internacionalista, e não apenas local, mostrando para o trabalhador a exploração capitalismo estava relacionada em várias partes do mundo e não apenas no chão de sua fábrica. Informou os trabalhadores sobre a decisão dos EUA de invadir El Salvador, anunciada por Reagan em 1982. Relatou a visita de Javier Alfaya, presidente da UNE, à Palestina a convite da OLP mostrando a dimensão da tragédia daquele povo.
Mesmo os temas de interesse dos camponeses marcaram a trajetória com a denúncia do latifúndio, sempre com uma linguagem de fácil apreensão, mesmo para os trabalhadores menos estudados. A linguagem irônica de Bernardo Joffily e as ilustrações também repercutiam junto aos leitores, como a manchete que dizia “O povo não aperta essa mão!”, em referência ao general Figueiredo. Nas edições, é possível acompanhar a trajetória incipiente e os avanços dos partidos de esquerda (PCdoB, PCB, PT e PSB) na vida política e eleitoral do país, desde o início da redemocratização.
A cobertura permanente dos imperialismos estadunidense e soviético, mostrava de forma crítica os objetivos espoliadores considerados similares, segundo avaliação da época. Num momento em que o pensamento hegemônico celebrava a abertura política da União Soviética, o jornal explicitava os encaminhamentos tortuosos das disputas internas e da abertura capitalista que ocorria naquele lado vermelho do mundo, desde que Nikita Kruschev deu início aos revisionismos históricos, políticos e ideológicos. O jornal fez a denúncia do revisionismo e da deterioração do poder soviético.
Nesses nove anos, o jornal cobriu o período mais pesado do avanço liberal, por meio dos governos Reagan e Thatcher, em que os movimentos operários estiveram em luta defensiva, enquanto no Brasil passavam por uma transição democrática com avanços políticos e retrocessos econômicos.
Os tribuneiros, militantes que vendiam o jornal em seus ambientes de trabalho, política ou estudantil, chegavam a ser uma tendência no movimento dos estudantes, por representar o confronto com setores recuados do movimento,- que consideravam o jornal uma aventura perigosa contra a força do regime-, além de combater esquerdismos e reformismos. Em outros casos, tribuneiro virou um xingamento, sinônimo de comunista (e, portanto, clandestino). Diante dos xingamentos vindos de setores sindicais localizados, os tribuneiros assumiam o apelido, tornando-o motivo de orgulho e neutralizando os adversários.
O ódio da ditadura se expressou concretamente em 27 de agosto de 1980, com menos de um ano de circulação, com a explosão da sede do jornal por atentado a bomba. Tribuneiros  eram presos, e a redação era processada pelo governo por dizer verdades que a ditadura não tinha mais condição de esconder. Em 1984, dias antes da votação da emenda das Diretas Já, a sede do jornal sofre um incêndio. A Polícia Federal aproveitou para saquear os escombros e levar equipamentos e acervo fotográfico de 8 mil imagens.
A violência da ditadura contra o jornal só fortalecia os vínculos com os leitores, que se mobilizavam em campanhas solidárias para reerguer a sede. Em 1983, a circulação era de 51 mil exemplares por semana, com quase 5 mil assinantes fixos.
Uma marca registrada da Tribuna era a sessão Fala o Povo, com cartas que eram verdadeiras reportagens impublicáveis em outros jornais, que eram enviadas de todo o país. Eram denúncias de condições desumanas de trabalho, de crime organizado em governos, assédio moral na fábrica, situações que passaram a ter um canal de vocalização e causavam furor entre os patrões.
Homenagem aos heróis comunistas
A Classe Operária, o jornal do Partido Comunista do Brasil, está às vésperas de completar noventa anos de existência. Nasceu para ser um instrumento de difusão das ideias do Partido, de seu programa, e também como ferramenta de estruturação partidária.
Os obstáculos com que o jornal se defrontou em sua longa existência foram o retrato da falta de democracia no país e da truculência governamental contra a organização dos trabalhadores.
Enfrentou perseguições policiais no ambiente de escassas liberdades democráticas da República Velha e da República Nova que nasceu com a revolução liberal de 1930; viveu períodos de clandestinidade durante as ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e de 1964. Nos anos de chumbo da ditadura militar de 1964, A Classe Operária chegou a ser escrita no exílio e transmitida ao Brasil através da Rádio Tirana. Cabia aos militantes gravar estes conteúdos e transformá-lo em jornais impressos, muitas vezes precariamente, em mimeógrafos ou mesmo através de máquinas de datilografia. Mesmo precárias, eram edições que transmitiam o conteúdo politicamente consistente do combate à ditadura, levando as orientações partidárias para cada rincão onde houvesse um comunista em atividade.
Teve entre seus editores, sobretudo nos períodos heroicos de enfrentamento da repressão policial das ditaduras, alguns gigantes da luta operária no Brasil, como Otávio Brandão, Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas, Carlos Danielli, entre outros.
Segundo o editor do jornal, José Carlos Ruy, mais que instrutiva e informativa sobre a história dos comunistas e da luta operária no Brasil, “a consulta à coleção é uma homenagem aos heróis que foram autores práticos da história e a registraram, por escrito, nas páginas do jornal comunista”.
A apresentação eletrônica da coleção de A Classe Operária contém os exemplares que sobreviveram à fúria repressiva através das décadas. Ela foi possível graças ao historiador e militante comunista José Luiz Del Roio, ao IAP (Instituto Astrojildo Pereira) e ao CEDEM (Centro de Documentação e Memória da UNESP), instituição que fez o tratamento da coleção, sendo, atualmente, depositária para consultas. A Fundação Maurício Grabois agradece formalmente a todas as pessoas e instituições que possibilitaram a divulgação digital deste material.