Para Isaías da Glória Araújo 

“E, no entanto, eram as nossas enfermidades, que Ele levava sobre si, as nossas dores que carregava”(Isaías, 53,4) 

Enquanto espera uma carga,
Um chapa
Sentado numa pedra, à beira de um caminho,
Tem no colo um Evangelho.
Cada letra identificada, cada sílaba soletrada
Vibram nas cordas da alma.
As mãos grossas tateiam o papel fino
E com os versículos
Tecem o agasalho da fé.

As letras miúdas,
O sol forte, as vistas fracas,
Fazem o velho chapa lacrimejar…
Mais do que isso, ele chora,
Pois que agora
Está naquela passagem
Que narra Cristo com a cruz às costas…

Chega a carga.
A jamanta, puro cimento, encosta…
Lá vai o homem carregando
Os sacos de argamassa
Às costas… 

Um, com tal sacrifício
pretendeu salvar a Humanidade.
O outro, pretende salvar os filhos da fome.
Dar-lhes escola, religião, saúde, profissão.

Qual cruz é mais pesada
Qual dos dois é mais divino,
Qual dos dois tem mais fé,
Qual dos dois é mais santo!

As Delícias do Amargo & Uma Homenagem Poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006