Francisco Quartim de Moraes destacou que o objetivo do seu trabalho, que resultou no livro, não era estudar o aspecto militar do movimento de 1932, mas os motivos que levaram ao Estado de São Paulo empreender uma guerra contra o restante do país.

Os expoentes do movimento destacavam dois motivos para o levante: a luta por uma constituinte que restabelecesse a democracia e a nomeação de um interventor paulista e civil para o Estado de São Paulo.

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“A cronologia dos fatos mostra que esses não poderiam ser os motivos”, afirma Francisco. Ele diz que antes de 9 de julho de 1932 “Getúlio Vargas já tinha marcado a Constituinte de 1933/1934 e também já tinha promulgado uma lei eleitoral inclusive com a previsão do voto para mulheres”, conta Francisco. Desta forma, analisa, a bandeira da constitucionalização não é um motivo real.

Para o autor, “a absoluta maioria dos autores que tratam do tema – em todos os espectros ideológicos – inclusive os com postura crítica – repetem a ideia que Getúlio Vargas só marcou a constituição depois da derrota. Essa é uma ideia falsa, A cronologia torna difícil sustentar esse aspecto”, reitera.

Ele lembrou do editorial do jornal O Estado de São Paulo publicado após a derrota das forças paulistas “Perdemos mas vencemos” foi uma tentativa de transformar o levante que tinha sido derrotado militarmente como uma vitória política porque tinha marcado a Constituição, que na verdade já tinha sido marcada muito antes. Francisco argumenta que eles poderiam ter dito que o Getúlio tinha marcado a constituinte, mas que não pretendia fazê-la”, mas optaram por distorcer a história.

Na sua análise, o levante paulista “queria recuperar a hegemonia que São Paulo tinha na República Velha”. A oligarquia paulista estava descontente com o processo de centralização do Estado que estava sendo implementado por Getúlio. Um exemplo que ele trouxe é na área dos impostos. Todos os impostos recolhidos no Estado ficaram em São Paulo que tinha autonomia para decidir sobre as formas de investimentos. A partir de Getúlio, com a centralização dos impostos, São Paulo perdeu essa autonomia.

A historiadora Jullyana Luporini também estuda o período de 1932, mas sua dissertação tem como foco compreender os motivos que levaram à adesão da elite industrial paulista ao movimento de 1932.

Segundo a pesquisadora, a Fiesp (na época Ciesp), que organiza o empresariado industrial paulista acabou sendo um espaço de estruturação do movimento de 1932. “Acabou sendo um QG militar durante o levante. O seu presidente na época, Roberto Simonsen, era um entusiasta do movimento”. Ela diz que houve inclusive uma “militarização da estrutura logística da Fiesp, que se voltou para o levante”.

Para ela o motivo principal foi a tentativa de barrar a agenda de centralização promovida por Getúlio Vargas que incorporou aspectos de regulação entre capital e trabalho, como a criação do Ministério do Trabalho.

Ela destaca que aquele foi um período de greves operários, de ascensão do movimento operário que descortinava um processo de conquistas que ia de encontro aos interesses da Fiesp, do empresariado e da oligarquia paulista, por isso o apoio.