Manuela foi a primeira pré-candidata a participar do debate promovido pela entidade com os presidenciáveis. Ela defende que o debate das eleições de outubro seja marcado pela propositura de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “Debater com vocês qual é o sistema de tecnologia e inovação, dentro do projeto nacional de desenvolvimento, é uma das questões mais centrais das reflexões que nós queremos levar para o processo eleitoral”, enfatizou.

Ele destacou o papel das universidade públicas para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. “As universidades públicas são espaço de produção de ciência do nosso país e não há caminho para nos desenvolvermos, garantir salário melhores aos trabalhadores e que o nosso povo viva com mais dignidade se não tivermos esses espaços que produzem ciência vinculados também ao setor produtivo”, defendeu.

Antes de Manuela, o presidente da Academia Brasileira de Ciência, Luís Davidovich, apontou que, diferentemente do que muito podem pensar, a exclusão social tem impacto direto no avanço da ciência do país. “Nosso problema vem desde a educação básica, que faz com que a gente conte com um número limitado de cérebros para fazer ciência. Milhões de cérebros são desperdiçados nas comunidades, nos morros das periferias e nos mangues. Esse é um problema sério que precisa ser superado”, frisou.

“Talentos não escolhem onde nascem. Nós estamos desperdiçando talentos através dessa política de exclusão”, completou Luís, salientando que mesmo diante desses entraves, o Brasil tem conseguido avanços.

“A Embrapa é um exemplo disso. Aumentou a produtividade da soja em pelo menos quatro vezes, chegando em algumas regiões do país a oito vezes. No ano passado o Brasil não precisou importar adubo nitrogenado porque Johanna Döbereiner desenvolveu um método de implantação de nitrogênio através de bactérias. Com isso, o Brasil economizou US$ 13 bilhões por não ter que importar adubo nitrogenado. O orçamento da Embrapa é de US$ 3 bilhões”, demonstrou.

Luís lembrou ainda que há poucos anos diziam que o pré-sal era uma aventura, que seria muito caro e que não conseguiríamos desenvolver a uma tecnologia capaz de explorar. “Hoje o pré-sal representa mais de 50% do petróleo brasileiro”, lembrou.

Projeto de desenvolvimento

Manuela endossou o discurso de Luís e disse que o PCdoB tem o projeto nacional de desenvolvimento que ousou “enfrentar uma visão ultraconservadora de determinados setores que fazem a disputa política em nosso país, ao afirmarmos que não temos um projeto de economia desvinculado do projeto de desenvolvimento da ciência e tecnologia”.

Segundo ela, a reflexão sobre o desenvolvimento não é apenas sobre o crescimento da economia, mas como o crescimento da economia pode garantir a diminuição das desigualdades, num país como o Brasil. “Portanto, desenvolver é garantir que a humanidade se desenvolva. Os homens e mulheres se desenvolvam na diversidade. Para mim, a ideia de um projeto nacional de desenvolvimento se faz a partir de um debate sobre a construção de um caminho próprio para o Brasil se desenvolver, garantindo que a singularidade do nosso país”, argumentou.

A pré-candidata disse que um dos esforços de sua pré-campanha “é justamente conjugar – não em caixas fechadas – os temas relacionados a singularidade, ou seja, a desigualdade de gênero e raça”.

“Historicamente no momento do debate de projeto de nação, nós mulheres vamos para as caixinhas de útero e violência. A caixinha das mulheres é sobre aborto e violência doméstica. E falamos de políticas sobre o combate ao racismo, também com superficialidade, e não tentando compreender a profundidade da estruturação e como isso é determinante para a estruturação da desigualdade nacional”, argumentou. “Nós não iremos nos desenvovler se seguir punindo de forma sistemática metade da população que são as mulheres”. advertiu.

Diversidade

“O que nós propomos com essa pré-candidatura nesse processo eleitoral é justamente debater qual é a base que pode nos unir enquanto povo em torno de um projeto de nação. O Brasil tem algumas características extraordinárias, mas nós temos uma elite que é absolutamente antinacional. É preciso compreender isso para saber de onde a gente parte”, salientou.

Manuela rechaçou a emenda do teto de gastos, que congela os investimentos públicos por mais de 20 anos, aprovada em 2016, mas que gera impacto com cortes de verbas de programas sociais. Para ela, a Emenda Constitucional 95 “é duas vezes nefasta”: impede os investimentos que são necessários para o Brasil ser um país mais justo, mas também barra a perspectiva da retomada do crescimento da economia.

“O próximo governo, para nos tirar desse lugar que nós estamos, necessariamente deverá fazer mudanças estruturais. Para mim, o próximo ciclo que o Brasil viverá será um ciclo de reformas. O nosso debate é se será reformas que desenvolverão o Brasil ou se elas são as chamadas contrarreformas. Se nós teremos o prosseguimento desse conjunto de medidas. O debate da eleição é sobre qual será o rumo dessas reformas”.

Publicado no Portal Vermelho