Logo no início da conversa Haroldo relembrou outro encontro perto da sede da Embaixada cubana, realizado em 1986, quando era líder da bancada comunista na Câmara dos Deputados. Nesta ocasião, ele e o então presidente do PCdoB, João Amazonas, mantiveram uma longa troca de opiniões com o presidente Fidel Castro, que estava em visita ao Brasil. 

Em seguida, estabeleceu-se uma proveitosa troca de opiniões sobre a exploração de petróleo no mundo e no Brasil. Haroldo saudou a política de negócios de Cuba, aberta a investimentos estrangeiros, mas condicionando-os aos interesses do povo cubano, privilegiando, no setor energético, recursos que venham a usar fontes alternativas como a eólica e a solar. Manifestou, contudo, que, secundariamente e a curto prazo, petrolíferas brasileiras tem condições de cooperar com Cuba nas diferentes frentes da atividade petrolífera, seja na exploração, seja na comercialização do produto.   

Haroldo Lima acentuou que a crise que assola o país recentemente – com a greve dos caminhoneiros que na verdade se revelou como um locaute de grandes empresários do transporte – tem na nova política de preços de combustíveis da Petrobras sua razão central. Esta nova política penalizou absurdamente o consumidor brasileiro, desconsidera inteiramente os interesses dos brasileiros e reflete exclusivamente os interesses dos acionistas da empresa, que exigem dividendos sistemáticos, sobretudo na situação em que a Petrobras se encontra em que a maior parte de seu capital social, cerca de 52%, é de acionistas estrangeiros, onde a parcela majoritária é dos que negociam na Bolsa de Valores de Nova York.  

Em outro momento da conversação, Haroldo sinalizou a inoperância do governo em tratar da greve, causando enorme prejuízo ao povo e criando um clima caótico que pode interessar justamente aos setores mais retrógrados da sociedade, inclusive àqueles que já bradam por intervenção militar e suspensão da eleição próxima.

Haroldo foi enfático ao dizer que o processo de venda de ativos da Petrobras “tem que ser revisto em toda sua inteireza”. Criticou a redução da presença do Estado na economia com as propostas de privatização de estatais importantes, como foi o caso da Eletrobrás, proposta esta que foi temporariamente derrotada na Câmara dos Deputados. 

O ex-deputado reafirmou também sua convicção de que — como já havia declarado na Comissão de Desenvolvimento Econômico em audiência pública — que a Petrobras está fazendo um suspeitosíssimo processo de enxugamento de seus ativos, vendendo coisas que nenhuma empresa petrolífera vende, a não ser que não tenha pretensão de continuar como empresa petrolífera no futuro. A proposição de privatizar a Petrobras não está formalmente apresentada, mas a movimentação que está sendo feita “deixa-nos sobressaltados”.

Haroldo Lima disse ainda que o processo de desindustrialização da economia brasileira vem ocorrendo pela falta de ação do Estado. A participação da produção industrial brasileira que já esteve em 32% do PIB em 1986, quando Haroldo realizou aquela mencionada conversa com Fidel, hoje está em 10%, situação que realça a importância do objetivo prioritário do Programa da pré-candidata Manuela D’Ávila, do PC do B, qual seja o da reindustrialização do país.

(Acompanharam o encontro Ana Maria Prestes, Thâmar de Castro e Pedro de Oliveira)