O mais recente vazamento de contas em paraísos fiscais, o Paradise Papers, expôs métodos utilizados por grandes corporações e pelos indivíduos mais ricos e poderosos para fugir da tributação. As empresas norte-americanas que atuam no mercado internacional estão entre as que mais recorrem aos esquemas offshore.

Mas engana-se quem pensa que os paraísos estão nas ilhas caribenhas. A Nike, com a ajuda da firma Appleby, deixa de pagar bilhões de dólares em impostos utilizando legislações atrativas na Holanda. Segundo o jornal Süddeutsche Zeitung, que recebeu os documentos do Paradise Papers de fontes não identificadas, as empresas alemãs recorrem a paraísos fiscais dentro da própria União Europeia (UE), como Holanda, Irlanda e Luxemburgo.

O economista francês Gabriel Zucman, a pedido do jornal alemão, calculou as perdas para os países. Mais da metade dos lucros das empresas dos Estados Unidos no exterior acabam em seis paraísos fiscais. A União Europeia deixa de arrecadar um quinto do que recolhe com impostos sobre a indústria, o que corresponde a 60 bilhões de euros por ano.

Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global se encontra retido nos paraísos fiscais, calcula Zucman. O economista francês destaca que o esquema aumenta a desigualdade, pois somente as grandes empresas e os muito ricos têm condições de recorrer aos paraísos para escapar dos impostos.

A receita com a tributação dessas empresas poderia ser 32% maior que a atual na Alemanha; 25% na França; e 20% no Reino Unido. A disposição de atacar o problema é reduzida, justamente devido ao poder de quem se beneficia. Mais de um terço (37%) do dinheiro que corre pelo mundo com destino aos paraísos fiscais passa pelo Reino Unido e pela Holanda.