O secretário nacional de Formação Política do PCdoB e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, destacou a importância da compreensão da reflexão e do estudo teórico como parte da luta de classes. “Esse curso demonstra que, não só vocês enquanto quadros, militantes do partido, mas as organizações as quais vocês pertencem, compreendem, mesmo no fragor da luta, que esse momento do estudo, da reflexão, do debate, que isso também é luta de classes. Como já diziam Marx e Engels, a luta teórica é uma das dimensões da luta de classes.”

Ele afirmou que o propósito era ter uma turma maior, e lamentou que a grande recessão econômica que atinge o país também atinja o Partido. “As condições materiais e financeiras do partido também são desafiadoras”.  Ele avalia que o país convoca à resistência diante de um momento de grandes desafios, entre eles, a luta teórica, a luta de ideias, um grande desafio de elaborar, perscrutar, investigar essa realidade que emerge do golpe parlamentar no Brasil. “Há a necessidade de um grande labor teórico, coletivo e individual, no sentido das forças de esquerda traçarem uma nova tática política que venha reaver o governo”.

A reitora da Escola, Nereide Saviani, ficou satisfeita em ter gente nova no curso, além dos “repetentes” e até mesmo pessoas que participaram de cursos de preparação de professores. Ela se refere a quadros que, justamente pela nova conjuntura, querem se atualizar.

Ela destacou o esforço de Renato Rabelo no trabalho de formação, o que possibilitou consolidar a escola com currículo, corpo docente e capilaridade nos estados. “O que garante uma sustentação teórica para os desafios que temos pela frente. Aquele curso panorâmico de 30 dias que foi ficando difícil de se realizar pela dimensão, foi o curso que nos anos 1980 sustentou o Partido diante daquela hecatombe que foi a queda dos regimes do leste europeu em efeito dominó”, recordou ela.

“Hoje vivemos no mundo e no Brasil um desafio praticamente do mesmo tamanho e que consideramos que a escola tem esse papel de garantir, sustentar e trazer elementos teóricos, políticos e ideológicos pra nossa luta. Na escola do partido, o estudo não é diletantismo, não é academicismo, nem pra demonstrar conhecimento, apenas, mas demonstrar conhecimento militante, que alimenta a luta para o objetivo maior que é a transição do capitalismo ao socialismo”, enfatizou. Para ela, a aula de Renato Rabelo é praticamente um roteiro de reflexão para ser lido durante todo o curso.

Renato Rabelo, então, assumiu a mesa com a aula inaugural do curso pontuando os objetivos que devem nortear o acúmulo de conhecimentos e sua articulação com a militância partidária. Ele pontuou os elementos da conjuntura internacional e nacional que levaram ao golpe de estado perpetrado contra Dilma Rousseff e seu governo. Para ele, é importante situar os elementos que precisam estar em destaque na análise para que a reflexão não se perca em detalhes estanques que dificultam a compreensão da dimensão ideológica da luta de classes travada.

Para ele, compreender a situação que vivemos hoje no Brasil é impossível se não situarmos quais são as tendências no quadro de relações do sistema internacional. O contexto de decomposição relativa da hegemonia dos EUA ocorre no momento em que emergem novos pólos que não participavam desse núcleo central, com tendência a multipolarização. Desta forma, os Brics (bloco de países emergentes) podem ser uma alternativa a uma nova ordem mundial. Por outro lado, a globalização financeira agrava ainda mais a crise econômica com o alcance internacional de suas consequências e a estagnação especulatória em que se mantêm os bancos centrais, depois de oito anos. Considerando esses três fatores, se compreende a contraofensiva conservadora na América Latina, sob comando dos EUA, visando desestabilizar governos progressistas e reverter a viragem de esquerda em governos que caminhavam para uma integração plena.

A crise chega com força em 2012 ao Brasil e outros países emergentes. “Assim como a lógica da guerra contra o terror foi a justificativa para violar direitos fundamentais e a soberania de outros países, a Lava Jato busca os mesmos fins. Não é a toa que o juiz Sérgio Moro é orientado pelo Depto de Estado dos EUA. A ruptura da ordem democrática do Brasil, portanto, é parte de uma ordem internacional de desmonte de governos para remontar a ordem ultraliberal do sistema financeiro”, sentencia o dirigente comunista.

De acordo com sua leitura, a hegemonia de esquerda no Brasil possuía relativa estabilidade até o primeiro governo Dilma, com certa potencia, sendo derrotada pelo consórcio de forças de direita formadas pela polícia, a mídia e o parlamento. “Para entender esse processo vitorioso da direita é preciso entender a luta política ideológica travada, não apenas momentos estanques da disputa. O objetivo era expurgar a esquerda do poder a qualquer custo”, explica Renato Rabelo, definindo a reflexão central que deve nortear o debate no curso.

Um golpe realizado por poderes, portanto, diz ele, um golpe de estado (parlamento e judiciário). “Uma nova ordem neoliberal e neocolonial, embora se fale muito da economia e pouco se fala da questão nacional implicada na submissão às grandes potências. Portanto, um retrocesso que vai muito além, afinal, a ordem estabelecida por Temer é mais atrasada que aquela defendida por José Bonifácio em 1822, com seu projeto de modernização nacional”.

Na opinião de Rabelo, a questão nacional se sobrepõe hoje à temas como a desigualdade e a democracia. “A espoliação externa de nossas riquezas precisa ser enfrentada para podermos discutir distribuição de renda novamente. Uma espoliação externa cujo principal facilitador é o estado brasileiro, mas a própria esquerda não compreende isso”, acredita ele.

De outra forma, o golpe gerou tamanha instabilidade institucional que as contradições colocam os agentes do consórcio golpista em impasses frente à opinião pública e a própria gestão do golpe. Assim, defende Rabelo, a esquerda precisa estar atenta em sua tática política para encontrar as brechas desta disputa intestina e enfraquecer os agentes do golpe.

Mergulho teórico

A professora Madalena Guasco inicia as aulas do núcleo de filosofia, analisando a Teoria do Conhecimento no âmbito do marxismo e as leis e categorias da dialética materialista. Segundo Altair Freitas, secretário-executivo da Escola Nacional, Madalena dá aulas vibrantes e consegue abordar temas complexos, profundos, de modo didático e estimulante.

No segundo dia, a filosofia segue regendo as aulas e debates. Nereide Saviani, diretora da Escola Nacional, apresentou o “Conceito de Transição” e “Atualidade do pensamento Marxista-Leninista”. Encerrando o módulo de filosofia, o professor Dermeval Saviani, expoente da pedagogia histórico-crítica e vencedor por três vezes do Prêmio Jabuti, abordou a Relação entre a dialética materialista e outros métodos de análise. Augusto Buonicore, membro do Comitê Central, historiador e diretor da Fundação Maurício Grabois, ministra a aula “Marxismo e a Questão Racial”, encerrando o segundo dia do Curso Nível III.

A aula do professor Julio Velozo, historiador e membro do Comitê Central do PCdoB, no núcleo de Estado e Classes Sociais abordou os “Modos de Produção no Brasil”, “Conceito Marxista de Povo e Nação” e “As Transições na História Brasileira”. A aula com o professor da UNESP e diretor do Instituto Confúcio, Luís Paulino, tratou das características da economia chinesa na atualidade.

Marxismo e a Questão da Mulher tem sido um dos temas de grande relevância nos cursos da Escola Nacional, de acordo com Freitas. “A compreensão marxista sobre as origens da opressão da mulher pelos homens e como devemos travar a luta pela igualdade entre os gêneros, associando-a com a luta pela superação do capitalismo, tem sido a tônica das aulas e do debate no curso Nível III”, afirmou ele, acrescentando que, tradicionalmente, essa aula tem sido ministrada por Ana Rocha, dirigente nacional do PCdoB e do Comitê Estadual do Rio de Janeiro.

“A transição do capitalismo ao socialismo é uma das questões mais importantes para o estudo dos comunistas. Tem como base a experiência histórica da construção do Socialismo na União Soviética, tendo a economia como ponto central da transição, bem como os diversos teóricos marxistas que se debruçaram sobre a questão, e a formulação do próprio PCdoB nas últimas décadas sobre esse tema de imensa importância”, pontuou ele. O professor Elias Jabbour, membro do Comitê Central e professor da UERJ, desenvolveu as aulas “Categorias de Transição ao Socialismo”, “As teorizações de Pensadores Marxistas do Século XX” e “O Pensamento de João Amazonas e do PCdoB sobre a Transição”.

As aulas do núcleo de Economia Política e Desenvolvimento encerraram a primeira parte do Curso Nível III. Altair Freitas conta que o professor Aloisio Barroso abordou toda a evolução do capitalismo pós-Segunda Guerra Mundial; os Acordos de Bretton-Woods, o Estado de Bem Estar Social, Crises Econômicas do Capitalismo, desde os anos 70, o Processo de UltraFinanceirização do Capitalismo e os Conceitos sobre Moeda e Mercado. Já o professor Lécio Morais fez uma abordagem histórica sobre a economia brasileira a partir dos anos 70, durante a ditadura militar, avançando pelo desenvolvimento do neoliberalismo no Brasil, desde o governo Collor e FHC, até a chamada Era Lula. O núcleo é encerrado com a aula do professor Agenor Silva que trata do capitalismo na era da hegemonia das finanças.

Com uma carga horária de 90 horas, o Nível III é voltado para dirigentes dos Comitês Estaduais, Comitês Municipais das capitais, membros das comissões auxiliares do Comitê Central e militantes das diversas frentes de atuação partidária que tenham realizado o curso Nível II – Conceitos Básicos do Marxismo-Leninismo. A inscrição dos (as) camaradas é feita exclusivamente pelos comitês estaduais e pelas secretarias nacionais do Comitê Central do PCdoB. Antes das atividades presenciais, cada inscrito(a) teve que realizar atividades preparatórias na Plataforma de Ensino a Distância da Escola, conforme orientações encaminhadas. 

A realização do Nível III é sempre um grande acontecimento no trabalho de formação teórica da militância e quadros dirigentes do PCdoB, pelo seu caráter de curso nacional, cujas aulas são ministradas pelos (as) professores (as) da Escola, com larga experiência no trabalho de formação no Partido, bem como pelo extenso e profundo conteúdo. O conteúdo está organizado em cinco núcleos fundamentais, que norteiam todo o trabalho de estudo do marxismo-leninismo e da realidade brasileira: Filosofia Marxista, Estado e Classes Sociais, Economia Política e Desenvolvimento, Socialismo e Partido Comunista.