A tragédia que ceifou a vida de Eduardo Campos teve um impacto significativo nas águas da sucessão presidencial. Pelas mãos deste infortúnio, Marina Silva se tornou candidata a presidente e, depois de rapidamente pactuar com os banqueiros, reconfigurou o processo eleitoral.
Vale a pena percorrer a sinopse dos fatos desde o dia do sinistro.


A nação reagiu com espanto e comoção ante a perda inesperada de uma liderança que se projetava como força renovadora. Entretanto, na mesma noite daquele atroz 13 de agosto, entremeio ao luto e ao espanto, a oligarquia financeira, ostensivamente, sem nenhum constrangimento, entrava em cena com o intuito de tentar se apropriar da tragédia, de administrá-la a serviço daquilo que é sua obsessão nestas eleições: impedir a qualquer custo a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.


Uma infantaria de jornalistas e “cientistas políticos” — os berrantes da grande mídia — fez soar uma diretiva do “mercado”: sem demora, o PSB deveria anunciar o nome de Marina Silva no lugar do líder precocemente morto.


Diante de hesitações no ninho dos tucanos sobre qual cenário lhes seria mais conveniente, veio a ordem do comando supremo do consórcio oposicionista (oligarquia financeira e a grande mídia, setores mais conservadores das classes dominantes): antes de tudo, garantir o segundo turno. E a probabilidade de havê-lo, vociferou o “mercado”, é com Marina na cabeça de chapa do PSB. Mas, e se a Marina ultrapassar Aécio e ir para segundo turno? “Paciência”, tudo menos Dilma. Em círculo de aço, assim se fechava o estratagema da oligarquia financeira, anunciado às escâncaras pelos veículos de comunicação.


Antes de o nome da líder da Rede ser ungido, a grande mídia fez desfilar uma romaria de personagens da nata das alas mais conservadoras das classes dominantes, quase rogando para que Marina aceitasse a candidatura. Gente graúda da alta finança, em “off” ou às claras – e, pasmem, mesmo barões de um setor do agronegócio – derramaram-lhe elogios, com mensagens do tipo: “mercados não temem Marina”. Provas e contraprovas de que Marina adotara a bula do rentismo foram apresentadas aos montes. Ou por suas próprias palavras ou por declarações de seu “guru” liberal, o economista Eduardo Giannetti.


No dia 17 de agosto, data da cerimônia fúnebre de Eduardo Campos, houve, por assim dizer, uma transferência simbólica da capital da República para Recife. Dezenas e dezenas de lideranças nacionais presentes, entre elas a presidenta Dilma Rousseff, governadores de vários estados, o ex-presidente Lula, e também o candidato tucano Aécio Neves e, é claro, Marina Silva, até então companheira de chapa de Eduardo Campos. Um mar de gente — calculou-se mais de cem mil pessoas, gente do sertão, do agreste, do litoral, da Capital — em contrição e homenagem ao neto de Miguel Arraes. Uma verdadeira romaria do povo em tributo ao líder que lhe foi arrancado por uma tragédia.
A presença de Dilma Rousseff e de Aécio Neves, do ex-presidente Lula e de expoentes do campo político hostil ao ciclo progressista que vigora no país desde 2003, para além da civilidade, simboliza que o significado do legado e a herança de Eduardo estão, objetivamente, em disputa entre o campo político conservador e o campo político de esquerda. É certo que Eduardo Campos — que apoiou os dois mandatos de Lula, que foi seu ministro e que também sustentou parte do mandato de Dilma — como candidato a presidente da República se apresentou um duro crítico do atual governo. Mas, embora acossado pela mídia, nunca atacou o ex-presidente Lula, ao contrário, manteve a coerência e sempre sublinhou os méritos do governo lulista.


Caso Eduardo Campos, poupado da tragédia, não fosse para o segundo turno, que posição adotaria? Efetivamente, ninguém poderá responder a esta pergunta. Portanto, os tucanos, os “marineiros” , as forças conservadoras que tentam profanar sua memória política, na tentativa de transformá-lo num ícone do campo político conservador, no elenco dos que nutrem ou se moveram pelo preconceito e ódio ao ciclo político aberto pela vitória de Lula em 2002, o fazem por pura má-fé e manipulação política.
A decisão do PSB de indicar Marina como candidata a presidente da República, tal como veio a se oficializar por sua direção nacional, no dia 20 de agosto, embora tomada com ares de unanimidade, logo veio a revelar as contradições entre históricos dirigentes do partido de Miguel Arraes e sua “hóspede”.  Isto se manifestou, por exemplo, com o grito de protesto do secretário-geral da legenda, Carlos Siqueira. A tensão persiste, embora a pressão do pragmatismo seja grande.


Marina sobe nas pesquisas de sondagens de intenção de voto com o mantra falsificador da chamada “nova política” com o qual tenta engabelar setores sociais descontentes e pactuando com os banqueiros  todos os compromissos exigidos pelo rentismo, como é caso da anunciada “independência” do Banco Central.


O consórcio da oposição conservadora sustentava até então como opção número 1, o tucano Aécio Neves. Mas se Aécio ficar na poeira, como indicam as pesquisas, parte do bloco das classes dominantes que apoia o tucano, de mala e cuia, passará a apoiar Marina. Jornalões já ostentam manchetes: “Para derrotar Dilma, mercado ‘marinou’”.  Quando escrevemos este texto, final de agosto, a oligarquia financeira vive um entreato e se fraciona: uma parte já migrou para a candidata da Rede-PSB, outra ainda tenta “salvar” a candidatura de Aécio.


Por que o “mercado” não “marinaria”? A cada segundo Marina repete que através de lei vai instituir a independência do Banco Central, leia-se, retirá-lo da esfera do governo federal e subordiná-lo à égide do capital financeiro. E mais, vejamos as declarações da herdeira do Itaú, senhora Maria Alice Setubal, e de Maurício Rands, ambos responsáveis pelo plano de governo de Marina: “Não vamos propor reduzir a taxa de juros por decreto. (…) É pelas leis do mercado que vai haver uma redução da taxa de juros”. O Programa de governo, anunciado no dia 29 de agosto, é um arremedo embelezado do programa neoliberal dos trágicos anos 1990, desta feita, acrescentando uma cereja no topo do bolo: a independência do BC, “o quanto mais rápido possível”.


Assim, a essência da sucessão presidencial não se alterou. As eleições de outubro seguem polarizadas por dois projetos, por dois caminhos opostos: avanço versus retrocesso. Podemos afirmar, com certeza, que tal polarização se agudizou. Neste confronto, Dilma Rousseff representa o polo da mudança e do avanço; Aécio Neves e Marina Silva, o retrocesso. Basta conferir os programas, a plataforma de campanha, as declarações dos postulantes e o campo político e social que os sustenta.


A presidenta Dilma Rousseff é a liderança capaz de, com base nas conquistas dos últimos 11 anos, conduzir o país a uma nova etapa de desenvolvimento. Dilma como presidenta soube defender o Brasil no período em que os efeitos da grande crise mundial do capitalismo passaram a afetar com mais danos as economias dos países em desenvolvimento. Dilma se proclama compromissada, em um novo mandato, a realizar as reformas estruturais de que o país precisa e empreender transformações que alavanquem o crescimento da economia do país e elevem, ainda mais, a qualidade de vida do povo brasileiro.


Princípios, coerente com a linha editorial que adotou desde 2003, nesta hora em que a nação está polarizada em dois campos políticos bem nítidos – avanço versus retrocesso –,  torna público o seu apoio à campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff.


Nesta reta final, o confronto se acirra. A oposição conservadora, apoiada nas pesquisas, tenta criar artificialmente a euforia do “já ganhou”.  É imperativo ao campo político democrático, popular e patriótico desencadear um grande movimento político, social, eleitoral que abarque uma vigorosa luta de ideias, reuniões, plenárias, atos de rua, intenso diálogo com os eleitores. A quarta vitória do povo, com a reeleição de Dilma Rousseff, segue ao alcance das mãos da Nação, mas requer intensa luta nas múltiplas frentes da campanha.

Adalberto Monteiro
Editor